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A hora de falar sobre a cloroquina

Uma das maiores polêmicas sobre o combate à COVID-19 está relacionada com a utilização de medicamentos específicos, como a cloroquina e a hidroxicloroquina. Usar ou não usar é a grande questão, mas há outras, como, por exemplo, em que circunstâncias este medicamento traria algum benefício, na prevenção? nos casos em que o paciente já está internado? diante de tantas dúvidas, talvez a única saída seja buscar as informações científicas a respeito do assuto.

Aline Garcia Gomes, professora de Microbiologia (IFRJ), mestre em Microbiologia e doutora em Biologia Celular e Molecular, diz que a cloroquina foi desenvolvida na década de 1940, como um medicamento para tratamento da malária, substituindo o quinino. “A hidroxicloroquina surgiu como um derivado da cloroquina, que apresentava menor potencial tóxico e, consequentemente, mais segurança à saúde de pacientes”.  

aline sentada numa mesa fazendo anotações

De acordo com a professora, essas drogas são usadas atualmente tanto no tratamento de malária quanto de artrite reumatoide e lúpus eritematoso. No entanto, diversos efeitos colaterais estão associados às substâncias. “Efeitos adversos graves, porém raros, podem acontecer: hipoglicemia (preocupante para pacientes que já apresentam diabetes), prolongamento do intervalo QT (arritmia cardíaca, preocupante para pacientes com problemas cardíacos anteriores à COVID-19 ou que foram afetados por esta), efeitos neurofisiatricos e retinopatias”, explica.

Mas então, uma pergunta se torna recorrente: Por que usar medicamentos como esses para tratamento da COVID-19? Aline diz que a utilização de uma droga que já vem sendo utilizada para tratamento de uma doença específica a fim de tratar outra doença, para a qual ainda não existe tratamento comprovado, faz com que o tempo de pesquisa para aprovação do uso desse medicamento em humanos seja menor.

Entretanto, alerta a microbiologista, reduzir o tempo de pesquisa não significa utilizar uma droga nunca testada para uma doença de forma indiscriminada, sem haver pesquisa suficiente que aponte benefícios. “Todo estudo clínico é feito em etapas, estas começam com experimentos in vitro (em células), seguido por experimentos in vivo(em camundongos, macacos e por fim em humanos)”, detalha Aline.

Corroborando assim os freqüentes alertas da OMS a respeito da cloroquina, Aline lembra que um provável, ou possível, benefício do uso do medicamento não foi devidamente pesquisado.

Expectativas e realidade

A ciência segue etapas essenciais para buscar resultados conclusivos, e, até o momento, estudos in vitro, realizados com células de rim de macaco verde africano (VERO) e células epiteliais alveolares (A549), apontam para uma possível eficácia das drogas (cloroquina e hidroxicloroquina), indicando que elas são capazes de reduzir a entrada do vírus, bem como a replicação nessas células, usando para tanto doses terapêuticas inferiores às utilizadas para tratamento de malária. O que, segundo Aline, significa dizer que vale a pena seguir as pesquisas com essas drogas, pois elas apresentam potencial para funcionarem em animais. “Mas, se vai mesmo funcionar nos seres humanos, não é possível afirmar”.

Outro detalhe importante é que ensaios clínicos com humanos até foram realizados, porém, os dados não apontam para o uso eficaz e seguro da cloroquina. Segundo três grandes trabalhos de revisão sistemática da literatura, que compilaram os dados disponíveis dos ensaios clínicos concluídos até maio de 2020, faltam: padronizações; revisão de dados; acurácia; avaliação de viés; contabilização de falhas (erros inerentes ao processo de experimentação) ou descrição precisa dos efeitos adversos do tratamento.

Aline diz que a maioria dos trabalhos utilizou um grupo de pacientes extremamente pequeno,  excluindo as grandes variações clínicas que a doença apresenta), utilizou também períodos muito curtos de análise (uma semana). E estes estudos sequer foram submetidos à avaliação por pares (membros da comunidade científica) antes da publicação.

A microbiologista chama a atenção para o fato de que uma grande variedade de quadros clínicos da doença deve ser levada em consideração nos estudos, uma vez que pacientes severamente doentes podem estar recebendo outras medicações e podem já estar apresentando falência de órgãos (disfunção renal e hepática), o que é capaz de influenciar o metabolismo dessas drogas e aumentar potencialmente seus efeitos adversos. O estudo mais recente sobre o medicamento apontou claramente para o aumento de mortes em grupos tratados com a cloroquina.

Atualmente mais de 20 tratamentos para COVID-19, com drogas e combinações diversas, estão sendo avaliados em estudos controlados, seguindo parâmetros rígidos. Como os estudos multicêntricos internacionais DiscoveryeSolidarity.

Aline Garcia Gomes também é microbiologista, imunologista, e pesquisadora nos laboratório de Microbiologia (Departamento de Alimentos, IFRJ) e do Laboratório de Estudos Integrados em Protozoologia (IOC, Fiocruz).

 

 

 

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